Translate

20/10/2015

Letes

Lento o amor esquece e a alegria
É como uma história de outrem.
Passa a noite fria
Na nossa nostalgia,
Passa a nostalgia,
Toca a desgraça
E tudo o que passa,
Toca em ninguém.


Paulo Anes

16/10/2015

Luanda

Luanda...
Abraça em muitas fés
O enterro de um destino
Descalço, roto, sem pés.

Luanda
Kizombemos nas Ingombotas
Porque a liberdade de um homem
Não se mede por sinas tortas.

Luanda
Rainha Njinga, rainha lua 
Do Cacuaco a Cabo Ledo
Há um miradouro que amua
...................................................................

Luanda...
Encarcerada, a decantar,
És poema a ser ... a declamar.




Paulo Anes

14/10/2015

A divisão do homem pelo óbvio

Tudo cai
A sombra do chapéu que cega
O politico que não afirma nem nega
A adoração sem escrúpulos
O hálito empestado das palavras
O intelectual do Nobel a haver
O menino dos músculos a ter
A vírgula feroz
Sujeita ao predicado
E a vizinha do lado
Dedilhando o terço
No tédio do seu próprio berço

Tudo cai
A certeza omnipotente
O que se sente
O que se não sente
O que se consente
A danação clandestina,
A posse de todas as posses
A senhora fina
As portas em horas de fecho
E o que se parte antes de partir
Para que o desenho sem lápis
Possa parir

Tudo cai
Carabinas e gestos fechados
Canteiros que ninguém plantou
Ângulos rectos; desamparados
Amantes de não sei quem amou


Paulo Anes

11/10/2015

Saudade

Não vivo contra o tempo apesar
Do tédio de o ter e não ter,
Vivo enfadado a escusar
A vidinha que não sabe morrer.

Ó cilício vivo
Não me deixo a esquecer,
Não me larga o sentimento,
Algoz em telúrico assento,
De uma memória por viver...

E as palavras, meu amor
Não sabem amar.
As palavras têm varizes 
Que nos impedem de caminhar.


Paulo Anes

09/10/2015

De pé...

Esta velha angústia
Deu lugar a um novo arranjo
E eu que não sou um anjo
Ou só um anjo caído
Um monstro ferido
Coxo e moído
Que sou como sou
Como quem é
Como é…

Eu…
Hei-de morrer p'lo meu pé.



Paulo Anes

06/10/2015

São Vicente de Fora, entre...

Acordei com trombetas nas albardas,
Cardos assimétricos aos pulos,
Asas de mosquitos abelhudos...

Zzzzz...
Zum, zune… foda-se.

Viagens de tinteiros nebulosos
Tutores e aprendizes
Nus ranhosos narizes...

Zzzzz...
Zum, zute... merda.

São Vicente de Fora, entre...
Venha conhecer um filho
Da pátria ausente.



Paulo Anes

04/10/2015

Adivinha...

Ai, Maria!...
Se soubesses que o amor dói
Não amarias ninguém,
Nem eu, sequer, viveria...
Ficaríamos aquém.

Pensa comigo...

A vida é solidão
A embutir sol no coração.

Pois é Maria

Se soubesses que o amor vai,
Eu não iriaficaria,
Seria outro ou outrem
E tu amarias ninguém.

Chora Maria, chora!...

P'ra onde eu vou?...
Oh Maria, vou-me embora!

Ai Maria!...
Se soubesses e cantasses,

Eu não contaria a ninguém,
Se eu cantasse e não contasse,
Iria, partiria,
Seria eu, não outrem,
E tu amarias também.


Paulo Anes