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21/05/2015

Há em mim uma voz …

Há em mim uma voz inclusa
Que protesta em favor do futuro.
E juro,
A sós,
Juro ao coração,
Que, essa, é a voz
Que me leva pela mão.


Paulo Anes

18/05/2015

Grito como águas sem lugar

Há na saudade pungente
Uma ferida, um desejo,
Uma giesta, um beijo,
Sem tentação que o tente,

Uma seara apagão,
Uma só ténue lembrança,
Berço-eira em comunhão,
Que não passa da esperança.

E na saudade agonia,
Onde eu vivera ou vivia,
Em movimento de fado,
Corre uma dor lancinante 
Que embala a todo o instante
Como um ferrão tresloucado,
A ausência de ti em tudo
Mesmo do que é recordado.


Paulo Anes

11/05/2015

Há dias assim

Há dias assim,
Em que não me deixo levar
Pelas ondas de um mar
Qualquer,
Nem sequer
Me deixo ir
Para além de Alenquer
Ou de Alcácer Quibir.

Há dias assim,
Em que não me deixo viver
Sem mim.


Paulo Anes

10/05/2015

Memento Homo

Assisto à marcha do espírito,
A este andar parado
Que caminha comigo
Por uma espiral adentro,
Agarrado
A um corrimão em busca
Do centro.

Sempre no cais de uma
Partida qualquer,
Sempre diante de uma mala
Por fazer.
E entre dois copos de vinho
Consigo trazer,
Já de voz arrastada,
Uns irónicos balanços
De toda a vida passada.

Para onde vou
Não sei,
Bardamerda para o que sonhei.


Paulo Anes

09/05/2015

Porque é que as andorinhas quando pousam nunca ficam?

Em quem escrevo os teus discursos?
De quem ouço dissertações?
Com que língerie acordas nos meus lábios?
Onde estão os cícerones das paixões?
Por quem são os mestres-donos das razões?


Quantos metros tem a fantasia?
De onde vieram os beijos que vieram
E que eu não queria?

Quantas vidas tem um sorriso
E a fantasia?
Quantos lutos não enterrei?
Fui eu que os criei?

Porque é que as andorinhas quando pousam
nunca ficam?...


Paulo Anes

07/05/2015

Cavaleiro Monge

Cavaleiro monge ,
Diz-me ontem o que foi hoje...


A Eva petulante
Que é o longe lá no mar
Terá, enfim, outro Adão
Se não o embalar
Em espuma e sangue e morte
De um desejo
A naufragar?

Cavaleiro monge,
Diz-me ontem o que foi hoje...

É justo pedir ao leme
O que o homem não quer dar?
Não há outra paz mais profunda
Que a paz do nosso lar?

Cavaleiro monge,
O homem do leme foge.



Paulo Anes

02/05/2015

Maria

Os astros resmungam
O Mar e o Céu vociferam,
Os deuses desesperam,

E a brisa que é vento ligeiro
Queima a palha do meu palheiro.

Maria!...
Leva-me ,

Embala-me em súplicios,
Condena-me ao sonho que tu quiseres
Ou quisesses...
Que se eu não fosse e tu dissesses
Eu não ia?
Ia, ia!

Maria!...
Não fiques p'ra tia,
Filha-me…
Diz-me onde é
Eu vou…
Ponho-me de pé
E mesmo que seja intragável,
Adio o inadiável.




Paulo Anes