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30/10/2016

Eunoé


Dentro do peito cósmico
Escuto palavras não ditas.
Escuto infernos
Dos que calam esperando,
Escuto céus esmagados,
Outros esmagando,
Escuto almas eremitas,
Umas nas outras, enfim, pousando
.


Paulo Anes

26/10/2016

Era com certeza um dia

Eram coisas, muitas coisas,
A desaguar cólera nos meninos
Que andavam às cavalitas 
Da aldeia dessas coisas.

"Faz frio!..."- gritavam
À cólera perguntavam:
"Somos coisas? Cavalitas? Somos gente?..."
Matutavam, refutavam, escutavam.
Sequer eco, sequer pio.
Apenas o leite de uma mãe quimera.
Apenas o frio.

Era com certeza um dia.
Sei-o porque sofria
(Se sofro por dentro,


Por fora há um dia)

E tudo espasmos,
Teoremas sem teor,
Gotas de ossos,
Profetas sonsos
Dentadas de olhos lassos
Salgados na visão dos cansaços...

Coisas, coisas, muitas coisas...
Miradouros das vidas que dormem
Na loucura daquilo que se espera das coisas
E não do Homem.




Paulo Anes








25/10/2016

O Inominado

Desejar é estar distraído.
A vadiar se vê o longe.
No caminho convertido
Trota a derrota do monge.

O inesperado alma o sagrado,
O que foi, o que é, o que será,
O Deus sem nome, o Inominado,
O Poema que se cumprirá.


Paulo Anes

17/10/2016

Amnésia por procuração

Ternos momentos de amnésia
Suicidavam-te o pranto,
E certas vestes mentidas,
Acercavam-te do esquecimento.

Descias pelas palavras,
Morrias nos poemas;
Sublime?
Apenas terror de nuvens
nos céus irados.

Ó se me lembro
Eras silhueta alada
De azul no assombro 
De azul-nu nada.


Paulo Anes

08/10/2016

Morrer para matar o tempo



Gostava de encontrar uma criminosa
Que me ensinasse a amar
Morrer sossegadamente
No teatro das verdades aquáticas,
Onde chapinham sedes ciclópicas,..

Crianças  reformadas,
Velhas ruminam  histórias não amansadas
Velhos condenadas a penas de vida
Dependuradas p'los pesados dedos dos pés,
Como Anteus emaranhados no sargaço
Onde o Homem tira notas do que nunca fez.

Gostava de encontrar uma criminosa
Que me ensinasse a amar;
Morrer sossegadamente.
Amar porque sim.
Morrer para matar o tempo...
Traiçoeiramente!






Paulo Anes


06/10/2016

Procrastinação

Ainda não está...
Está quase...
Porque não já?
Não digo mais nesta frase...
Amanhã logo se verá.
O filho de hoje
Já cá não estará. 

Paulo Anes