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07/11/2016

Quem era eu no século passado?

Adormeci a crer-te
Luar de noite vermelha
E por revés e de esguelha
Habituei-me a erguer-te 
E ao que nunca me darás
 

Enterrei esse trono
Era uma côdea cansada
E na tua boca em cilada
Sepultei-me num sono
Que era um sonho lá atrás.


Paulo Anes

06/11/2016

Talvez também o mar

Espécie de fogueira, 
Eira, bebedeira, piegas
Sinónimo de pedra esculpida
Em cabeças de xisto,
Lancheira de poesia sem pegas,
Retalhista de causas perdidas,
Tenho para mim que as gentes que riem são paridas.

Infelizmente não consigo vê-lo: o riso.
Não tenho olhos senão p'ró lamentar.
Nem passado, nem futuro
Só presente a caminhar
E, talvez, também o mar.


Paulo Anes

04/11/2016

A invenção do só para uso próprio



Todo o novo envelhece,
Todo o calor esfria,
Toda a beleza fenece,
Como água benta sem pia. 

Sobro, minto, absinto,
Sinto o que não sinto,
Desdigo o que não foi dito,
Fito o que não tem jeito,
Assassino esse mito
Mal feito.

E na hora certa
Do minuto do segundo seguinte,
A história futura chama-se sorte.   
Pasmo como um pedinte.  
A bússola que me deram não tem norte.


Paulo Anes

01/11/2016

Inconsciênciatividade


O que me traz desapeado
Ao que me atenho
Aconselha-me a ir aí
A esse nenhum lado
Por onde não venho
Utopiar num cobertor sujo 
De humanidades porcas
P'ra contar aos netos
Não casar com a fadista da casa 

Porque a admiro
Não admirar porque a admiração 

É a inveja inconsciente
Não usar a mente
Porque mente


Paulo Anes