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31/07/2016

Evangelho Segundo Eu

Navegamos por águas longe
Com passos de deter tempo
Sofremos como que foge
De todo e qualquer sofrimento

Plantas paradas na palma
Da tranquilidade dos barcos
Deixem fugir a minha alma
Cansada de todos os charcos

E p'rós amoladores do Eu
Que teimam assentar na razão
Aponto-lhes a lira de Orfeu
Pura e ígnea Paixão.



Paulo Anes

25/07/2016

Chorar o que não quero ver agora

Choramos muito.
O que falta?
Amamos pouco.
Porque temos?

Paremos.
Beijemo-nos apenas.
Beijemo-nos nas manhãs ceias
Iguais às cores loucas
Que mergulham em luas cheias
Como um açoite 
Nas nossas bocas.

Paremos.
Beijemo-nos apenas.
Beijemo-nos como actores
Dos lugares ternos
Sem crepúsculos negros
De tristeza
Nem carrascos íntimos
De força ou de fraqueza.

Paremos
Beijemo-nos apenas...




Paulo Anes

24/07/2016

Ignorância de experiência feita

Sabes por um dia
Quantas horas têm vida?
Quantas vezes choras?
Quantas demoras?
Quantos  chegadas sem partida?
Quantos e quantos agoras?
Nem eu.




Paulo Anes

09/07/2016

Rio do Esquecimento

Rio dos génio perdido no labirinto do espanto
Das faces no gelo de olhos despertos
Na solidão de um olhar há sóis encobertos,
E esculturas do desejo demolidas em pranto

Olhos vitrais de uma cor ermida,
Olhos máscaras de um tempo extinto,
Olhos a renascer onde ainda te sinto
Mulher ardente, gargalhadas de vida.

Um ser eu sei lá, um sei lá vagabundo,
Neblina breve que se esfuma no cais
Ó delírio secreto diz-me onde vais
Se é vã a glória de comandar o meu mundo?


Paulo Anes