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13/03/2016

Há lá em Belém

Há lá em Belém
Orixás boiando em luas,
Caboclas por todo o lado,
Forró, xote, xaxado
Corpos
Cadência de corpos
Cadência de coqueiros em folhas de corpos
Putas
Cadência de putas
Traficantes, pistoleiros p’rá troca
Alodiais d’ouro, melopeias de coca


Remoinha...
Remoinha a cachoeira.


Onças, gaviões, guaribas, araras
Cascatam refegos
Em homens desmatados.
Courelas de tochas
No mormaço húmido.
Redes de pés na merda
Envilecidos p’la fusão
De vidas nulas arrancadas
Ao coração do coração.

Há lá em Belém
Um menino que nasceu
Tronco nu a ser piroga.
Poiso a cabeça
Colo no menino
E o correr da brisa sem pressa
Deixou-me quentinho.
Deu-me presentes p'rá amanhã
Carradas de fome por pagar
Escalvados gemidos de indigentes
E facadas à distância
Da dança que há lá
Inspirada no rapé
Preparado p’lo Pajé
Que comeu a mãe do sol
Miriti e coquinho.

Há lá em Belém
Caboclos que dão à maconha
O poder de enterrar as cinzas
Na gramática
Há samba, carimbô, baião,
Forró, xote, xaxado
Pé na terra
Sem terra, embriagado
E p'lo não
Deuses ao ritmo das musas miragens
Nas sobras do pão .

Aqui e ali há urucum
Do rosto da moça no rosto do moço.
O sol bate o bosque em cima dela.
(O sol não bate, nem é bosque... é só ela.)

Remoinha,
Remoinha a cachoeira

Em Belém
O menino que nasceu.
Ainda não veio.
Será que vem?



Paulo Anes



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