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31/07/2017
No Barrocal da minha infância
No Barrocal
Da minha infância
O Douro imperial
Fecundo lá ao fundo
Acoitava de paixão e abundância
A Barragem menina
(Que o animava e anima)
Reclamando ecos de amor profundo
P'las longas arribas acima.
Deus e o Diabo?
Era igual.
Nos céus reinavam o grifo
O falcão-peregrino,
A águia-real.
Na terra...
Ora a igreja,
Ora a sacristia
Ora a missa que o padre Pinto dizia
Ora a Biblia esculpida
Nas escarpas abruptas,
Dos morros excessivos.
(Isto, claro, nos meus sentidos)
O Orlando estudava
O Adelino corria
O Morais orientava
E a Alda Maria
O colo cheio de graça
Que tão bem sabia.
Crianças da minha idade
Não sei se havia.
Era o Lázaro de regresso à vida
Na loucura enternecida do dia a dia
Era não haver o que não havia
Como, por exemplo, a palavra saudade...
E era tudo tão verdade.
Paulo Anes
26/07/2017
Deus me perdoe
Não padeces de dor
Não és tocado pela vingança
Não te abate a fadiga
Não te ameaça o perigo
Não és sensível a preces e orações
Não podes evitar sermões
Que abatem o teu próprio templo
Nem as guerras
As perdas
E essas merdas
Não podes ferir
Ser mau exemplo
Pecar
Ou mentir
Magoar
Gargalhar
Ou rir
Fracassar
Ser culpado
Estúpido
Ou julgado
Não és tocado pela vingança
Não te abate a fadiga
Não te ameaça o perigo
Não és sensível a preces e orações
Não podes evitar sermões
Que abatem o teu próprio templo
Nem as guerras
As perdas
E essas merdas
Não podes ferir
Ser mau exemplo
Pecar
Ou mentir
Magoar
Gargalhar
Ou rir
Fracassar
Ser culpado
Estúpido
Ou julgado
Não podes não ser
A não ser imperfeito
Não podes morrer
Ser injusto
Ou ter defeito
Não podes sentir o pânico feito
De cilício de gente
Que vive, vivia
Sofre, sofria
E custe o que não te custar
Não podes trabalhar
Desde o sexto dia
Ó Deus todo poderoso, vá lá!...,
Como podes refrear a vontade humana
Se o que podes não dá
Sequer para uma semana?
Paulo Anes
25/07/2017
24/07/2017
22/07/2017
O dia inteiro à espera
O dia inteiro à espera
Do que é preciso que não doa muito.
Falta um ombro
Onde a cabeça em balada
Aprenda a saber
E aprenda a saber deixar de saber.
Ombro de infinito e infâmia,
Que me liberte da ternura das palavras
Que absolvem os homens;
Que ensine a dor como fonte,
O crime como inevitável,
A consciência do crime como necessidade...
Sem bençãos que amoleçam
Nem lágrimas que me aparem os golpes.
Paulo Anes
Do que é preciso que não doa muito.
Falta um ombro
Onde a cabeça em balada
Aprenda a saber
E aprenda a saber deixar de saber.
Ombro de infinito e infâmia,
Que me liberte da ternura das palavras
Que absolvem os homens;
Que ensine a dor como fonte,
O crime como inevitável,
A consciência do crime como necessidade...
Sem bençãos que amoleçam
Nem lágrimas que me aparem os golpes.
Paulo Anes
21/07/2017
20/07/2017
Pastor de limbos
Era pastor de limbos
E, aos domingos,
Predicava histórias do futuro
À mais pesada da lágrimas
Gentes de todo o lado
Entretidas com os cheiros dos sons
Que há nas ervas do orvalho,
Encontravam-se na morte das marés
Queimada aos pés
Da areia quente.
E quando chegavam domingos
O pastor de limbos
Nas suas fúteis andanças
Convertia as lágrimas
E a mais inútil das crianças
Ao que ainda não tinha sido inventado:
Vestir todo o amor
No caminho esfarrapado.
Paulo Anes
E, aos domingos,
Predicava histórias do futuro
À mais pesada da lágrimas
Gentes de todo o lado
Entretidas com os cheiros dos sons
Que há nas ervas do orvalho,
Encontravam-se na morte das marés
Queimada aos pés
Da areia quente.
E quando chegavam domingos
O pastor de limbos
Nas suas fúteis andanças
Convertia as lágrimas
E a mais inútil das crianças
Ao que ainda não tinha sido inventado:
Vestir todo o amor
No caminho esfarrapado.
Paulo Anes
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